Naturologia, teoria quântica e o efeito placebo

Naturologia, teoria quântica e o efeito placebo

por Osvaldo Pessoa Jr.

O termo “naturologia” se refere ao campo de práticas terapêuticas que não se enquadra na medicina alopática ou nas linhas clássicas de psicanálise e psicoterapia, e que se utilizam de plantas medicinais, de técnicas terapêuticas tradicionais do Oriente, e de técnicas mais recentes que se caracterizam por não serem invasivas, como a iridologia, fitoterapia, aromaterapia, etc. Segundo alguns naturólogos, o objetivo não é “curar” doenças, mas sim promover o bem-estar e o equilíbrio da pessoa com seu ambiente.

"Parece-me que uma estratégia argumentativa que poderia ser adotada pelos profissionais da naturologia, possivelmente aliada a outros argumentos, é justamente a de que parte do sucesso da naturologia (ou mesmo todo o seu sucesso) provém da comprovada eficácia do efeito placebo" Olhando de fora, como leigo no assunto, imagino que essas práticas terapêuticas “funcionem”, já que a área tem se expandido e os relatos dos “interagentes” (termo que às vezes substitui o “paciente”) costuma ser positivo. Há atualmente dois cursos superiores em naturologia no Brasil, na Universidade Anhembi-Morumbi, em São Paulo, e na Unisul, na região metropolitana de Florianópolis.

Em maio de 2008, foi realizado o I Congresso Brasileiro de Naturologia, em São Paulo. Porém, a profissão de naturólogo enfrenta dificuldades para ser regulamentada. Por quê?

Basicamente, a questão é que as teorias usadas para justificar a naturologia não são consideradas científicas pela ciência estabelecida, e as evidências experimentais em favor da eficácia das terapias alternativas não são muito melhores, aos olhos da ciência ortodoxa, do que a eficácia do chamado “efeito placebo”. Um exemplo da posição científica ortodoxa é o texto “Naturebologia”, facilmente encontrado na web, e escrito pelo físico Leandro Tessler, em blog sobre Cultura Científica.

Analogias e comprovação científica

Boa parte das explicações dadas às terapias alternativas envolve analogias criativas. Por exemplo, em um artigo do Jornal Hoje de 28/02/2002, argumenta-se que a cromoterapia teria base científica, pois “a cor violeta contribui para a recuperação das pessoas que têm câncer porque ela é rica em potássio, e a cor vermelha ajuda pessoas que estão com anemia”. Esse tipo de raciocínio por semelhança (ou analogia) sempre foi forte na tradição científica do “naturalismo animista” (ver o texto “O que é a Ciência Ortodoxa?” - clique aqui), na qual a naturologia se insere. É verdade que as analogias são muito importantes na formulação de hipóteses científicas, mas tais analogias precisam ser submetidas a testes experimentais bem controlados para que sejam consideradas “científicas”. 

Muitos autores preocupados em fornecer uma base teórica para a naturologia argumentam que ela é justificada pela física quântica. Porém, é muito difícil explicar o relativo sucesso das técnicas de naturologia com base na teoria quântica. A física quântica se aplica bem para átomos e moléculas, mas os efeitos quânticos acabam sendo apagados quando há muitas partículas interagentes, como é o caso do nosso corpo. Mesmo o computador quântico, que é uma idéia espetacular desenvolvida nos últimos 25 anos, só pode funcionar para poucas partículas isoladas a baixas temperaturas (até agora, o único computador quântico real que foi construído tinha só sete partículas).

Existem muitos autores que defendem que haja uma “física quântica da alma”, ou uma psicologia genuinamente quântica, mas tais teorias não têm aceitação entre os cientistas ortodoxos. Os experimentos citados em defesa dessa extensão da física quântica para o domínio humano não são levados a sério pela ciência estabelecida. Assim, não é argumentando a partir da física quântica que a naturologia conquistará a aceitação das sociedades médicas e científicas.

Sucesso da naturologia e efeito placebo

Parece-me que uma estratégia argumentativa que poderia ser adotada pelos profissionais da naturologia, possivelmente aliada a outros argumentos, é justamente a de que parte do sucesso da naturologia (ou mesmo todo o seu sucesso) provém da comprovada eficácia do efeito placebo. Este efeito envolve a seguinte situação. Pacientes que têm alguma doença e que são tratados apenas por meio da ingestão de uma pastilha inócua, contendo nada mais do que farinha e talvez um pouco de açúcar, acabam se curando da doença, a uma taxa maior do que aqueles que não recebem tratamento algum. 

A compreensão deste efeito se fortaleceu na década de 1970, quando se comprovou cientificamente que há uma ligação íntima entre os nossos sistemas neurológico e imunológico, num campo hoje conhecido como “neuroimunomodulação”. Um componente importante do efeito placebo é a relação de cuidado e atenção que se estabelece entre o médico e o paciente, às vezes denominado “efeito não-específico”. 

O efeito placebo não deveria funcionar se o paciente souber que o remédio ingerido é inócuo (apesar de efeitos não-específicos ainda poderem atuar). Mas se a ingestão do placebo for acompanhada pela crença de que há uma teoria que explica sua ação, e o tratamento envolver cuidado e atenção por parte do naturologista, então a probabilidade de sucesso da terapia aumenta. A naturologia pode assim ser sustentada por argumentos científicos aceitáveis, baseados na realidade e força do efeito placebo, como um complemento ou alternativa para uma classe restrita de problemas de saúde física ou mental.

Teoria científica por traz do efeito placebo

A teoria científica que está por trás do efeito placebo não é a física quântica, mas sim áreas da fisiologia celular e da bioquímica clássicas, que constituem o campo da neuroimunomodulação. É verdade que uma compreensão mais completa de uma reação bioquímica entre duas moléculas requer a física quântica. Como nosso corpo é constituído de moléculas, num certo sentido somos seres quânticos, e supondo que nossa alma (ou consciência) seja um produto da matéria e energia de nosso corpo, então nossa alma também é, num certo sentido, quântica. 

Porém, conforme mencionado acima, o comportamento “essencialmente quântico” que ocorre no nível dos átomos, envolvendo a dualidade onda-partícula (ou o colapso da onda quântica), acaba ficando “borrado” ou “diluído” na escala celular, tornando-se imperceptível neste nível (este argumento foi dado também no texto “A Consciência é um Fenômeno Quântico?” - clique aqui). Assim, até onde se sabe, o comportamento de nosso corpo pode ser explicado por teorias “clássicas”.

Mas ainda há grandes mistérios científicos envolvendo o funcionamento de nosso sistema nervoso, e uma explicação mais completa do efeito placebo é um desses mistérios. Talvez a naturologia possa contribuir para um esclarecimento desta questão. 



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