O cérebro do intestino

O cérebro do intestino

Fonte: http://www.drashirleydecampos.com.br/noticias/2125 

O presente artigo traz em linguagem acessível explicações sobre o grande número de neurônios que são encontrados na parede do intestino, sua importância para o controle das atividades do aparelho digestório e as conseqüências de algumas doenças que podem afetar tais neurônios.

O grupo de pesquisa em neurônios entéricos do Departamento de Ciências Morfofisiológicas da UEM explica que na parede do intestino existem milhões de neurônios, muito semelhantes aos existentes no cérebro e outras partes do sistema nervoso central.

Os neurônios do intestino ou neurônios entéricos são os principais responsáveis pela manutenção e coordenação das funções digestivas, esclareça-se que funcionam em integração e de maneira harmoniosa com os comandos recebidos do sistema nervoso central.

Para dar idéia da complexidade e do nível de desenvolvimento dos neurônios que constituem o sistema nervoso entérico, os pesquisadores exemplificam da seguinte maneira: à medida que o sistema nervoso foi se desenvolvendo surgiram três tipos básicos de neurônios, os sensitivos que captam os estímulos do meio e os conduzem em direção a centros nervosos onde as informações serão processadas, os associativos que conduzem estas informações para que sejam processadas em diferentes níveis, e os motores que respondem à estimulação. Pois bem, no intestino à semelhança do que acontece no cérebro são encontrados os 3 tipos básicos de neurônios, o que permite a realização de arcos reflexos (passagem de estímulos pelos neurônios sensitivos, associativos e motores) evidenciando uma certa independência de funcionamento. Em termos práticos poderíamos dizer que os neurônios do intestino são até certo ponto capazes de captar informações, processá-las e responder adequadamente conforme a necessidade do momento, é como se "pensassem e tomassem decisões sobre o que fazer" para garantir o bom desempenho das funções de digestão e eliminação das fezes.

Mas por que o intestino precisa de um sistema neuronal tão complexo? Esta é uma pergunta que freqüentemente é feita para os pesquisadores em neurônios entéricos. A resposta é simples: basta atentarmos para o fato de que para nos mantermos vivos consumimos energia o tempo todo e que esta energia vem dos alimentos. Ora se o intestino não tiver uma boa coordenação de suas funções e deixar de absorver os alimentos, faltará energia para todo o corpo comprometendo a capacidade de realizar atividades físicas e mentais. Se o alimento percorre o tubo digestivo muito lentamente, pode fermentar e surgir quadros como azia, má digestão e ressecamento das fezes; se percorre muito rapidamente vem a diarréia que tem como principais conseqüências a desidratação e má absorção dos nutrientes dos alimentos. Logo o alimento deve percorrer o tubo digestivo dentro de uma velocidade ideal, para isto conta com a ação dos neurônios entéricos que atuam em conjunto com hormônios controladores do mecanismo da digestão e com informações do sistema nervoso central.

Dada a importância dos neurônios entéricos um grupo de professores da UEM vem realizando pesquisas sobre estes neurônios desde 1990, que já resultaram em 8 dissertações de mestrado orientadas pelo Prof. Dr. Marcílio Hubner de Miranda Neto, junto ao mestrado em Biologia Celular da UEM, 6 projetos de iniciação científica orientados pelos professores Marcílio Hubner de Miranda Neto, Sonia Lucy Molinari, Sandra Regina Stabille, Maria Raquel Marçal Natali, Eneri Vieira de Souza Leite Melo e Débora de Mello Gonçales Sant’Ana. Foram também publicados diversos trabalhos em periódicos nacionais e internacionais.

Os principais enfoques dos estudos têm sido o envelhecimento, o diabetes, a desnutrição e alguns estudos de filogênese.

Desnutrição e neurônios entéricos

São realizados estudos dos efeitos da desnutrição no período de gestação e lactação em ratos, para tanto desnutre-se as mães e estuda-se os efeitos sobre os filhotes. Surpreendentemente nas pesquisas realizadas pelas Profas. Maria Raquel Marçal Natali e Eneri V.S.L. Melo sob orientação do Prof.Dr. Marcílio Hubner de Miranda Neto (UEM) e Prof. Dr. Romeu Rodrigues de Souza (USP), verificou-se que os animais cujas mães são desnutridas na gestação e lactação crescem menos e ganham menos peso, entretanto quando voltam a receber dieta com teor protéico normal os filhotes recuperam-se, e o mais interessante as análises microscópicas demonstram que o animal acumula proteínas dentro dos neurônios entéricos como se fizesse uma reserva para uma possível repetição da desnutrição protéica.

Já nos estudos realizados pela Profª. Débora de Mello Gonçales Sant’Ana, onde o rato adulto envelheceu submetido a desnutrição protéica, verificou-se que estes animais perdem mais neurônios que os animais que envelheceram em condições normais de nutrição. O envelhecimento conforme demonstrado pelo Prof. Dr. Romeu Rodrigues de Souza (USP), provoca em humanos redução de 30 a 40 % do número de neurônios, o que pode ser uma das causas de os idosos terem com certa freqüência complicações digestivas.

Os resultados obtidos usando ratos como modelo experimental na UEM, se extrapolado para humanos, sugerem que uma alimentação pobre em proteínas no decorrer da vida pode resultar em acentuação das complicações digestivas relacionadas ao envelhecimento. Portanto o ideal é uma dieta equilibrada, porém uma dieta equilibrada depende de fatores culturais e sociais.

Diabetes e neurônios entéricos

O grupo vem desenvolvendo várias pesquisas em colaboração com o Prof. Dr. Roberto Barbosa Bazotte do Departamento de Farmácia e Farmacologia, utilizando como modelo ratos com diabetes induzido por estreptozotocina. Tais pesquisas são motivadas pelo fato do diabetes ser uma doença degenerativa que pode afetar os neurônios entéricos diretamente devido a sua fisiopatologia ou indiretamente devido a aceleração do processo de envelhecimento.

Dados da literatura demonstram que as

complicações intestinais são comuns em humanos diabéticos justificando-se o estudo dos neurônios entéricos em modelos experimentais que possam contribuir para compreensão de tais complicações.

Pesquisas realizadas pelas Profas. Luzmarina Hernandes, Jaqueline Nelises Zanoni, Evanilde Buzo Romano, Nilza Cristina Buttow e Cristina Teles Fregonesi, demonstram que o diabetes afeta de maneira diferenciada os intestinos delgado e grosso, sendo inicialmente o intestino delgado o que mais sofre, entretanto com o envelhecimento em condições de diabetes torna-se marcante em ambos uma grande perda neuronal.

Aspectos filogenéticos dos neurônios entéricos

As Profas. Sonia Lucy Molinari, Sandra Regina Stabille e Marli dos Santos Pereira, vem estudando os neurônios entéricos do pato e de peixes. O objetivo é conhecer os padrões normais para que posteriormente possam ser estudados os efeitos de condições adversas sobre os neurônios entéricos desses animais, principalmente os de agrotóxicos que comumente contaminam a água.

Dr. Marcílio Hubner de Miranda Neto

Coordenador do Laboratório de Pesquisas em Neurônios Entéricos do DCM - UEM



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