Enxaqueca

Fala baixo, é... enxaqueca


Ela incomoda cerca de 35 milhões de brasileiros. O pior, é que esse mal não tem cura! Mas antes de se dar por derrotada, saiba que o controle dessa dor insuportável pode estar nas suas mãos


Por Mariana Viktor

 

Ela vai chegando de mansinho, aumenta progressivamente e pode afetar qualquer região da cabeça, até mesmo a face. A dor, às vezes, é de um lado só. Outras, pode aparecer dos dois. Pode ser do tipo que lateja ou que provoca uma sensação de pressão, como se a cabeça fosse explodir. "Há casos em que a dor é tão intensa que a gente não consegue fazer nada, exceto deitar na penumbra, em silêncio, até ela passar", diz o clínico geral e especialista em enxaqueca Alexandre Feldman (SP). Na melhor das hipóteses, dura umas três horas, mas há casos em que a dor vai e volta durante três dias, prejudicando o trabalho, os relacionamentos e a qualidade de vida da pessoa.

Essa dor é o sintoma mais comum da enxaqueca, distúrbio que afeta um em cada cinco brasileiros - ou 35 milhões de conterrâneos, mais do que a população da Argentina! -, mas não é o único. "Na verdade, a enxaqueca é uma síndrome", afirma o Dr. Feldman, autor de três livros sobre o tema: Enxaqueca, finalmente uma saída (Editora Arx), A dor de cabeça morre pela boca (Editora A Girafa) e Enxaqueca, só tem quem quer (Editora Novo Século). "A pessoa pode ficar irritadiça, deprimida ou ansiosa, sentir náuseas - muitos chegam a vomitar - ou aversão à claridade, ruídos ou odores, além de apresentar alterações de visão." E há até quem padeça de um ou mais desses sintomas... sem dor de cabeça. A freqüência da enxaqueca varia de indivíduo para indivíduo: há crises que acontecem todo dia ou algumas vezes por semana, enquanto outras são mensais e até anuais.

Enxaqueca à vista
Uma característica típica de certas enxaquecas é a ocorrência de outros sintomas no dia anterior ou algumas horas antes da crise. Essa premonição desagradável inclui alterações de apetite, tontura, bocejos, diarréia ou desconforto abdominal, passando por dificuldade de concentração e de raciocínio, aversão ou forte desejo por algum alimento, até fraqueza muscular (que às vezes afeta apenas um lado do corpo) e visão escurecida ou embaçada.

"Um dos sintomas mais curiosos, que afeta de 10% a 15% dos enxaquecosos - nome dado aos portadores do distúrbio - é a chamada aura de enxaqueca", observa o Dr. Alexandre Feldman. "De repente, o indivíduo começa a enxergar pontos brilhantes ou linhas em ziguezague piscando no seu campo visual, que aumentam de tamanho e atrapalham a visão." Também acontece de se ver apenas parte das coisas ou pessoas. Os objetos podem dar a impressão de aumentar ou diminuir de tamanho, fazendo com que o enxaquecoso esbarre nas portas, por exemplo. Ainda pode acontecer formigamento na língua, lábios ou membros, tanto superiores quanto inferiores, a fala pode ficar arrastada e a pessoa pode não se lembrar das palavras mais comuns. A aura de enxaqueca dura de 20 minutos a uma hora, quando começa a regredir, dando lugar à dor típica da enxaqueca propriamente dita. "Sempre oriento meus pacientes a não dirigir durante o período de aura, embora alguns já tomem essa precaução instintivamente", completa o médico.

 

Dor de cabeça X Enxaqueca A enxaqueca é um tipo de dor de cabeça, mas enquanto suas causas estão ligadas a um desequilíbrio químico no cérebro, há 316 outras razões para a cabeça doer. "Uma vez tratada a causa, a dor de cabeça desaparece, enquanto na enxaqueca a dor é a própria doença", explica o Dr. Alexandre Feldman.

A razão de tudo
A enxaqueca é provocada por um desequilíbrio na química cerebral. "Envolve neurotransmissores e neuropeptídeos, responsáveis por sensações como a dor e até pelo comportamento e humor.

Por isso os enxaquecosos normalmente sofrem também de doenças como síndrome do pânico, fibromialgia, depressão e ansiedade", explica o Dr. Alexandre Feldman.

As alterações hormonais também fazem parte do quadro. "E devido às oscilações hormonais a que estão sujeitas, a prevalência maior da enxaqueca é entre mulheres. De cada 10 enxaquecosos, apenas três são homens", diz o médico psicossomático Luciano Stancka (SP).

O que complica é que, por ser uma doença associada a química cerebral e hormonal, vários estímulos cotidianos podem desencadeá- la. "Pode ser a claridade de um dia ensolarado, um filme que emociona demais, locais barulhentos ou cheios de gente, uma notícia ruim ou boa, e até a prática de exercícios físicos fora da rotina habitual", observa o Dr. Luciano. Fora os gatilhos já bem conhecidos, como pular refeições e consumir alimentos como chocolate, vinho, embutidos, queijos e comidas gordurosas.

O que fazer e o que não fazer durante a crise
Se você sofre com dores de cabeça, a primeira coisa a ser feita é um diagnóstico médico. "Além do exame clínico, é recomendável realizar exames neurológicos para descartar outras doenças, avisa o Dr. Alexandre Feldman.

Depois de comprovada a enxaqueca, as dicas são: não esquente a cabeça durante a crise e procure um lugar escurinho, calmo e silencioso onde você possa relaxar por uma hora. Se você já consultou seu médico e ele lhe deu uma receita, tome os medicamentos direitinho, mas não se automedique. "Há pessoas que chegam a tomar 10, 12, 15 comprimidos de analgésico por dia! Com o tempo, o uso irresponsável desses medicamentos acaba tornando o organismo ainda mais suscetível à dor", alerta o Dr. Luciano Stancka. Além disso, a pessoa fica sujeita a desenvolver uma hepatite medicamentosa ou outra coisa grave.

Mantenha a enxaqueca longe!
"A medicina ainda não encontrou a cura para a enxaqueca, mas a própria pessoa tem em mãos a chave para controlar a doença", diz o especialista em enxaqueca Dr. Alexandre Feldman. Devido a uma série de fatores culturais, aprendemos que somos vítimas das doenças e não influímos em sua manifestação. "É claro que existe uma base genética, mas ela só vai determinar qual distúrbio vai nos atingir - enxaqueca, fibromialgia, hipertesão, obesidade ou depressão, por exemplo. Já o desenvolvimento da doença é fruto direto de um estilo de vida inadequado", analisa o especialista.

A alimentação, o sono e a atividade física - além dos medicamentos preventivos - são aspectos fundamentais para o controle da enxaqueca. "Mesmo o equilíbrio hormonal e o emocional, que estão relacionados, dependem de um sono reparador, de uma alimentação de qualidade e da atividade física adequada", garante o Dr. Feldman. Dormir pouco ou em horários irregulares, consumir alimentos industrializados, gordurosos e cheios de conservantes (veja quadro Controle da Alimentação), assim como ter uma vida sedentária - ou o oposto, exagerar na prática de exercícios - são fatores que favorecem novas crises. Não basta apenas evitar os gatilhos que a pessoa já conhece, é preciso melhorar a qualidade de vida como um todo. Se você é sedentária, 30 minutos de atividade física diária são suficientes.

O que faz a diferença não é a quantidade, mas a continuidade do exercício. "Bastam 10 minutos de alongamento e 20 minutos de caminhada. Ao final, deite e relaxe o corpo e a mente por mais 10 minutos. Use a técnica de sua preferência ou simplesmente preste atenção no movimento da sua respiração", ensina o expert. "Tudo isso pode fazer maravilhas para prevenir novas crises!"

 

Acupuntura e campos eletromagnéticos
Além dos medicamentos - antidepressivos, inibidores de canais de cálcio, betabloqueadores e outros - que diminuem a sensibilidade aos fatores desencadeantes das crises de enxaqueca, a acupuntura também tem obtido ótimos resultados. "sabemos que ela favorece a produção de endorfinas, que são analgésicos naturais fabricados pelo próprio corpo.

É um processo já conceituado na medicina, que atenua as crises ou espaça sua incidência", explica o médico luciano stancka, que também é ortomolecular e acupunturista. outra alternativa de tratamento são os chamados campos eletromagnéticos. "Há ondas eletromagnéticas positivas e negativas. as geradas por um celular, por exemplo, se o contato com o aparelho for excessivo, fazem com que você tenha vontade de jogar o telefone na parede porque aquela 'esquentada' dá uma sensação ruim. nós usamos um tipo especial de campo eletromagnético na faixa de 60 hertz - que pulsa alternado, norte-sul, 60 vezes por segundo - que parece ajudar no equilíbrio orgânico, reduzindo a dor da enxaqueca e também o estresse, outro desencadeante das crises", explica o Dr. stancka.

Controle da alimentação
Quanto mais natural for a alimentação, menor o risco de provocar uma crise de enxaqueca ou agravá-la.

"Não se sabe exatamente por que agrotóxicos e aditivos encontrados nos alimentos industrializados favorecem a enxaqueca", explica a nutricionista Fernanda Pisciolaro, das clínicas cozer e adriana Vilarinho (sP). "a hipótese mais provável é a de que alguns indivíduos são especialmente sensíveis ao consumo desses produtos".

A nutricionista recomenda fracionar as refeições de modo a não ficar mais de três horas de estômago vazio. assim evita-se a hipoglicemia, outro desencadeante de enxaqueca.

Também vale fazer um registro alimentar. "a melhor forma de descobrir se há relação com a comida é ingerir quantidades grandes de cada alimento relacionado, um por semana, identificando os que possivelmente acionam as crises."

 

Agora, fique atenta aos alimentos que podem provocar crises:

Os ricos em cafeína (chá-preto, chá-mate, chá-verde, refrigerantes de cola, café, energéticos etc.).
Queijos curados, creme fermentado e laticínios.
Fermento e pães fermentados.
Alimentos fermentados.
Algumas leguminosas, principalmente grãos secos, como lentilha, feijão e derivados da soja.
Nozes, sementes e manteiga de amendoim.
Chocolate e cacau.
Miúdos e carnes salgadas, secas, curadas, defumadas ou que contenham nitritos.
Sardinhas, anchovas e peixe defumado.
Abacate, banana-prata, frutas cítricas, figo, mamão, maracujá, banana-da-terra, abacaxi, framboesa, ameixa e passas.
Temperos, realçadores de sabor e adoçantes artificiais.



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