Um novo estudo clínico publicado no mês de setembro em Neurology traz boas novas desde que relata que pacientes com a doença de Alzheimer (DA) que tomaram resveratrol diariamente apresentaram melhoras em pelo menos um biomarcador, indicando menor progressão da doença em comparação com o grupo placebo1.

O resveratrol é um polifenol encontrado na casca das uva vermelha e, por conseguinte, no vinho tinto, que possui muitos efeitos benéficos, incluindo a proteção do revestimento endotelial das artérias, propriedades anti-inflamatórias (por bloquearem a produção de NF-kB), como também propriedades anticancerígenas. Através da restrição calórica em longo prazo, pode-se ativar as sirtuínas – potentes compostos antienvelhecimento, e reduzir o declínio cognitivo associado ao envelhecimento em modelos animais com a DA, ambos feitos também alcançáveis através da suplementação de resveratrol2-4.

O estudo randomizado, controlado por placebo, duplo cego, de 52 semanas, fase II, contou com a participação de 119 pacientes com DA suave à moderada para examinar a segurança, tolerância e efeitos dos biomarcadores (Aβ40 e Aβ42 no plasma, LCR Aβ40, Aβ42, tau, e phospho-tau 181), resultados volumétricos por MRI (resultados primários) e resultados clínicos (resultados secundários). A dose inicial oral diária foi de 500mg com aumentos a cada 13 semanas, terminando em 1000mg duas vezes ao dia.

Os resultados mostraram que os eventos adversos mais comuns foram náuseas, diarreia e perda de peso. Os níveis de LCR Aβ40 e níveis plasmáticos de Aβ40 diminuíram mais no grupo placebo do que no grupo resveratrol, resultando uma diferença significativa na semana 52. Uma característica da doença de Alzheimer é a redução do volume cerebral, o trabalho mostrou que a ingestão de placebo apresentou uma maior perda desse volume quando comparado aos pacientes que ingeriram resveratrol.

Como conclusão, o tratamento com resveratrol se mostrou bem tolerado e seguro. O composto e seus metabolitos maiores penetraram pela barreira hematoencefálica apresentando efeitos no sistema nervoso central. Futuros estudos precisam ser feitos para interpretar as mudanças dos biomarcadores associadas com o resveratrol. O estudo aqui exposto é classificado como classe II, desde que mais de dois resultados primários foram observados.

Enquanto que o vinho tinto contém resveratrol, o uso generalizado de pesticidas na vinificação moderna, incluindo a prática de sulfatação de cobre, resulta num pequeno nível do polifenol nos vinhos atuais e, portanto, os suplementos podem prover uma mais alta concentração se aproximando das doses utilizadas em estudos científicos – 20mg de resveratrol, por exemplo, equivale a 41 garrafas de vinho tinto. Como parte de um programa antienvelhecimento5, tem sido recomendada a sua suplementação em doses de 20 a 200mg diariamente, juntamente com uma dieta saudável, sono de qualidade e atividades físicas, ou conforme a prescrição do profissional de saúde responsável.

Referências:

1- R. S. Turner, R. G. Thomas, S. Craft, et al. A randomized, double-blind, placebo-controlled trial of resveratrol for Alzheimer disease. Neurology 2015

2- Cohen HY, Miller C, Bitterman KJ, et al. Calorie restriction promotes mammalian cell survival by inducing the SIRT1 deacetylase. Science 2004;305:390-2

3- Kulkarni SS, Canto C. The molecular targets of resveratrol. Biochim. Biophys. Acta 2015;1852:1114-1123

4- Patel NV, Gordon MN, Connor KE, et al. Caloric restriction attenuates Abeta-deposition in Alzheimer transgenic models. Neurobiol Aging 2005;26:995-1000

5- Markus MA, Morris BJ. Resveratrol in prevention and treatment of common clinical conditions of aging. Clin Interv Aging. 2008;3(2):331-9