Eu: “como posso te ajudar?”
Mulher: “bom, eu tenho ovários policísticos e quando perguntei para minha médica o porquê, ela disse que eu teria que fazer medicina para entender…Me prescreveu uma pílula que não quero tomar. Por isso estou aqui.”
Infelizmente a narrativa de consultas sem espaço para diálogo ou informações é muito frequente. Então, para começar, vamos partir do pressuposto de que toda mulher está apta a entender o que acontece com seu próprio corpo e que tutela e infantilização não tem mais espaço. O “tome essa pílula” ou “tome essa plantinha” para regular sua menstruação, podem ser faces diferentes de uma mesma realidade: na maioria das vezes, as mulheres não são consideradas capazes o suficiente para entenderem aspectos importantes de sua fisiologia. Não bastam portanto, tratamentos “alternativos”, é preciso fazer uma limpa no discurso que transforma aspectos da vida em patologia.
Nesse texto pretendo contribuir para o entendimento do porquê tantas mulheres carregam um rótulo de SOP sem tê-lo. O que é preciso para um diagnóstico correto? De que problemas é preciso diferenciar? Quais são as linhas de tratamento convencionais e quando estariam indicadas? Quais são as possibilidades de tratamentos complementares e/ou alternativos?
Mudanças de estilo de vida serão suficientes para tratar a SOP de muitas mulheres. Outras precisarão de tratamento alopático. Mas a maioria das mulheres teve na verdade um diagnóstico equivocado de SOP. Muitas dessas talvez precisem de uma ajuda para regular a menstruação ou melhorar a acne depois de terem parado a pílula. Esse texto é a tentativa de traduzir informação médica para que mulheres estejam em melhor posição para o diálogo com seus cuidadores. Sim, para os padrões atuais “um textão”…mas diante de tantos mitos e desinformação, é preciso discutir tim tim por tim tim. Leve seu tempo.
Mas afinal, eu tenho SOP?
Estima-se que a prevalência (presença de uma condição na população) de SOP seja de 6 a 10% das mulheres. No entanto, em torno de 80% das mulheres que atendo já receberam esse diagnóstico em algum momento de suas vidas. Será que todas as mulheres com SOP estão vindo parar em meu consultório? Provavelmente não. O que aconteceu foi que se introduziu entre um dos critérios para diagnosticar SOP a imagem dos ovários ao ultrassom, um exame realizado mais vezes do que deveria. Isso acaba tornando regra aquilo que deveria ser uma exceção. Algo que aliás, grade parte da medicina faz muito bem.
Para vários autores para haver SOP seria preciso:
Escala Ferriman-Gallwey para diagnóstico de hirsutismo (excesso de pêlos)
Há alguns anos, após reunião de especialistas, incluiu-se nos “Critérios de Rotterdam”, além dos dois itens acima, o aspecto do ovário ao ultrassom. A SOP começou a ser diagnosticada quando dois dos critérios abaixo estivessem presentes:
Perceba que os cistos devem estar dispostos na periferia do ovário
Como irregularidades menstruais são comuns (nas adolescentes que ainda estão com a comunicação entre cérebro e ovários em desenvolvimento, nas mulheres que acabaram de largar a pílula); como o achado de cistos ovarianos é frequente (todo mês vários folículos são recrutados dos quais somente um vai liberar um óvulo) e como se faz muito ultrassom “de rotina” desnecessariamente (algo que já discuti aqui) observamos uma verdadeira “epidemia” de SOP. Uma legião de mulheres carregando o rótulo de uma doença que pouco provavelmente tem…e pedindo autorização a médic@spara deixarem a contracepção hormonal.
SOP é na verdade um termo equivocado já que faz parecer que há um problema com os ovários, quando trata-se de uma Síndrome Reprodutiva Metabólica (nova nomenclatura proposta). Mas afinal, por que vou responsabilizar o estilo de vida (tão dependente de condições sociais e econômicas) se posso responsabilizar os ovários das mulheres e ter como solução a sagrada pílula?
E o que mais pode causar SOP?
E o que acontece para o ciclo menstrual ficar irregular? Você acompanha seu ciclo? Entende os sinais que ele dá quando ovula?
Nosso ciclo se inicia com o chamamento de folículos do ovário pela hipófise. (Detalhe: essas células reprodutivas já estão presentes em nossos ovários, todinhas, enquanto ainda estamos no útero de nossa mãe). Esses folículos crescem e produzem estrogênio até gerar um pico de LH que é responsável pela ovulação (e pelo aumento de temperatura que observamos nesse período e também pelo muco cervical tipo clara de ovo). O folículo roto transforma-se em corpo lúteo que continua produzindo estradiol e progesterona. A progesterona é baixa desde o começo do ciclo e só aumenta depois da ovulação (ela continua num patamar elevado e quando diminui, vem a menstruação. Podemos perceber isso observando a temperatura que deve manter-se elevada, acima da temperatura basal. Mulheres que tentam engravidar e não conseguem devem observar através do método sintotérmico se sua temperatura cai antes da hora, isso pode significar uma fase lútea curta). Quando o estradiol começa a diminuir, o FSH começa novamente a aumentar para novo recrutamento de folículos para o próximo ciclo. E a queda de progesterona vai fazer com que o endométrio (tecido que cresce todo mês por dentro do útero) descame na forma de menstruação. O sangramento que você observa quando usa pílula não é menstruação, mas um sangramento de “privação”. Ou seja, o estrogênio da pílula faz o endométrio crescer e parar a pílula (e também a progesterona contida nela) faz o endométrio descamar.
Mas voltando, ao nosso assunto o que acontece nas mulheres com sobrepeso e obesas (que são as maiores afetadas pela SOP) é que há conversão de hormônios masculinos na periferia do corpo (na gordura) em estrona (um tipo de estrogênio). Esse excesso de estrogênio inibe a produção de FSH, não havendo adequado recrutamento folicular. Assim não há pico de estradiol e consequentemente não há pico de LH, nem ovulação, nem formação de corpo lúteo e produção de progesterona. O endométrio cresce mas não há descamação. Sem ovulação não há menstruação…Essa anovulação crônica leva os folículos a ficarem dispersos na periferia do ovário e o endométrio a se proliferar.
Além da obesidade, há uma tendência à resistência à insulina, que contribui para estimular a produção de hormônios masculinos no folículo (e na glândula adrenal) e também diminui a SHBG, que é uma proteína do fígado que se liga nos hormônios sexuais. Quanto menos SHBG, mais testosterona livre. Assim, tudo culmina para um excesso de hormônios masculinos e mau funcionamento do ciclo menstrual. Importante ressaltar que mulheres com peso normal também podem ter aumento de resistência à insulina e SOP!
Precisamos diferenciar SOP de outros problemas de saúde. Por isso outros exames podem ser necessários se você apresenta os critérios para diagnóstico de SOP (excesso de hormônios masculinos e disfunção da ovulação)
Como SOP é na maioria das vezes de origem metabólica é importante que se investigue a presença de resistência a insulina e isso pode ser feito com TOTG (um teste oral de tolerância à glicose).
Tratamento/Acompanhamento
Convencionais:
Aspectos ligados à mudança de estilo de vida e nutricionais
Dúvida que não quer calar e uma das principais preocupações das mulheres que querem parar a pílula:
É claro que essas informações não substituem uma consulta com profissionais de saúde habilitados(as) em cuidar de você. Mas podem contribuir para uma conversa mais franca e horizontal. Deixe seu comentário no blog. Gostaria de escutar suas experiências. Há outros textos por lá que podem te interessar.
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