Desinformação leva a autodiagnóstico fictício sobre transtornos mentais |
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por Joel Rennó Jr. |
Porém, toda informação da área precisa ser filtrada de forma cuidadosa e respeitosa. Noto que, apesar do discurso social, alguns profissionais só estão interessados em vender livros e angariar recursos financeiros com palestras. O livro, em teoria, é bom, mas... na ora da prática clínica a conversa é outra. Observo alguns profissionais, autores de livros de autoajuda ou do gênero de não ficção, que parecem estar interessados apenas nos lucros auferidos por royalties, perante editoras cada vez mais ambiciosas e comerciais. Digo isso porque eu e muitos outros colegas do meio acadêmico recebemos, continuamente, inúmeros pacientes desesperados que chegam angustiados aos nossos consultórios e hospitais com diagnósticos fictícios de TDAH (Transtorno do Déficit Atencional e Hiperatividade), conhecido também como DDA, TBH (transtorno bipolar de humor), transtorno de personalidade (TP), entre outros. De repente, todo mundo de perto tem algum transtorno mental. Será verdade? Autodiagnóstico é inconcebível O autodiagnóstico é inconcebível em psiquiatria, geralmente, resulta em erros e consequências graves. Julgar, de fora, se uma pessoa é psicopata ou bipolar também é uma tarefa extremamente árdua e complexa. Pessoas normais podem ser excluídas socialmente, por rótulos atribuídos por leigos ou julgamentos precipitados. Só o médico psiquiatra preparado, através de uma rigorosa anamnese (histórico do paciente) psiquiátrica e exame psíquico, está habilitado para fazer corretamente um diagnóstico psiquiátrico apurado. Só para citar um pequeno exemplo, entre inúmeros casos, uma paciente procurou, recentemente, um(a) médico(a) escritor(a) de muito sucesso (pelo menos pelo número volumoso de livros vendidos) que questionou o diagnóstico prévio de esquizofrenia. Resumindo, o médico(a) escritor(a) retirou o antipsicótico abruptamente e a paciente surtou. O (a) profissional, em questão, falou que ela tinha uma mente perturbada por TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo) e não esquizofrenia. Tal fato quase resultou em riscos sérios à integridade dessa pessoa. Casos assim, infelizmente, são frequentes na rotina de bons profissionais. Isso me levou sinceramente a uma profunda reflexão sobre os critérios utilizados nas escolhas dos médicos. Nem sempre um(a) autor(a) de best-seller é o (a) mais indicado(a). Isso não acrescenta qualidade substancial ao currículo médico. É fácil, traduzir em linguagem coloquial e até emocionante, aspectos gerais do DSM-IV (Manual Diagnóstico e Estatístico de Saúde Mental, da Associação Psiquiátrica Americana) e de trabalhos publicados pelo meio acadêmico, recheados com casos clínicos reais ou imaginários. Como filtrar informações de livros e da mídia Sou plenamente a favor da informação e da orientação em saúde mental, porém, sem sensacionalismos baratos e até cruéis. Informações devem fornecidas por profissionais que têm conhecimento e vivência verdadeiros na área. As telenovelas têm exagerado em alguns estereótipos psiquiátricos, dizem que a função social é exercida, porém, quando as pessoas chegam ao meu consultório com hipóteses diagnósticas descabidas, isso demonstra ser um argumento frágil. Acredito que o tiro esteja saindo pela culatra. Novelas estão se tornando muito pesadas, precisa haver melhor consultoria e maior leveza nas abordagens. Enfim, caros leitores do Vya Estelar, não tive quaisquer intenções de atingir diretamente a qualquer profissional. Porém, preocupo-me muito com o excesso de informações expostas na mídia, algumas de qualidade questionável na área de saúde mental. Há um pânico descabido em nossa sociedade quanto a determinados transtornos mentais, precisamos achar um ponto de equilíbrio e sobriedade. Os critérios de escolhas dos médicos também precisam ser repensados pelas pessoas, uma vez que, raramente, grandes lideranças do mundo científico escrevem livros para leigos. E, nessas horas, podem surgir oportunistas de plantão. |
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